A criatividade segundo Mary Shelley, autora de Frankenstein


Frankenstein    Mary Shelley    
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Escrito por: Maria Popova
Traduzido por: Adriana Zoudine

Devemos humildemente admitir que a invenção não consiste em se criar a partir do nada, mas sim a partir do caos.

“A criatividade envolve não apenas anos de preparação e de formação consciente, mas também de preparação inconsciente”, escreveu Oliver Sacks ao enunciar os três elementos fundamentais da criatividade, acrescentando: “Esse período de incubação é essencial para promover a assimilação subconsciente e a incorporação das influências e fontes pessoais, reorganizando-as e sintetizando-as em algo próprio.” Quanto mais rico for o repertório pessoal de influências e fontes, mais interessante será sua síntese em algo novo — tópico muito bem articulado por Rilke, já um século antes de Sacks, em sua ponderação sobre a inspiração e o caráter combinatório da criatividade. Albert Einstein intuiu este argumento quando descreveu o funcionamento de sua própria mente como sendo um “jogo de combinatória”.

Muito antes de Sacks, Einstein e Rilke, um outro gênio abordou essa longeva questão sobre o que significa e o que é essencial para o ato de criar: Mary Shelley (1797-1851), em seu prefácio da edição de 1831 de  Frankenstein ou o Prometeu moderno — sua desbravadora obra-prima literária, que não apenas introduziu a observação de questões da ciência e da responsabilidade social através de uma lente atemporal, mas que também consubstanciou o caráter combinatório da criatividade ao transmutar ideias que assimilara em palestras científicas, às quais ela frequentemente assistia, em uma visionária obra de arte.

Fazendo eco à visão perspicaz de sua contemporânea Ada Lovelace, de que invenção é uma questão de descobrir e combinar, Shelley escreve:

Cada coisa deve ter um começo… e esse começo deve estar associado a algo que aconteceu antes. Devemos humildemente admitir que a invenção não consiste em se criar a partir do nada, mas sim a partir do caos: primeiramente, devem ser obtidas as matérias brutas; elas podem vir a dar forma a substâncias escuras e disformes, mas não podem dar corpo ao conteúdo em si. Em todos os aspectos concernentes a descobertas e invenções, mesmo naqueles que pertencem ao domínio da imaginação, estamos continuamente sendo lembrados da história de Colombo e o ovo. A invenção consiste na capacidade de avaliar o potencial de um tema e no poder de moldar e de configurar as ideias suscitadas para ele.

Maria Popova


Maria Popova é a fundadora do Brainpickings.com

Link do artigo original.



Adriana Zoudine


Tradutora.



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