Introdução ao conto Romance mínimo, de Grazia Deledda


contos sardos    Giovanni Verga    
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Escrito por: Anna Giordano
Traduzido por: Mariana Souza

Romance mínimo — da coletânea Contos sardos (Racconti Sardi), de 1894 — começa imediatamente com um apelo visual à terra de origem da autora, Grazia Deledda. Sua história se inicia em Nuoro, em uma família burguesa e abastada, na qual cultivar a paixão pela escrita não seria algo difícil. Autodidata de formação, Deledda foi autora de inúmeros romances, entre eles Elias Portolu, de 1900 e Canne al Vento (Juncos ao vento), de 1919, assim como diversos outros contos. Em pouco tempo, o sucesso da autora sarda transcendeu as fronteiras italianas quando foi agraciada com o prêmio Nobel de literatura, em 1926.

O texto de Romance mínimo começa com a imagem de uma montanha: com uma montanha calcária que não invoca a dureza do território sardo, pelo contrário, o monte é apresentado como azulado, delicado, ao qual segue a recordação da elegante e refinada casa ancestral, referência a uma infância perdida. Tudo é mostrado em um tom quase de sonho, e os elementos realistas perdem, de fato, a conexão com a realidade, conduzindo a conclusões absolutamente peculiares. A narração, a descrição vívida do território sardo, nos é apresentada como o relato de uma terra mítica, pura, portadora de grandes valores éticos e ainda  intocada, ao contrário do resto da península, sujeita a processos de modernização que transformavam os beatos campos em metrópoles caóticas.

Um “verismo”, então, perfeitamente individual, que não se preocupa (diferentemente de outros escritores, como por exemplo Verga) com as questões sociais; que não vê aquele mundo de uma certa distância: tudo é impregnado de poesia, e cada lugar é frequentemente a invocação de uma lembrança. A narração, ainda que marcada por uma certa predisposição à descrição, oferece ao leitor a visão de um lugar real e, ao mesmo tempo, imaginado: a Sardenha de Deledda é onírica, atemporal.

Nas páginas seguintes, a atenção da escritora concentra-se principalmente em um outro tema da sua literatura, isto é, o homem e seus transtornos. A crise que se iniciou no final do século 19 despertou uma reflexão sobre realidade e consciência que foram incorporadas à produção de Deledda, sem ainda afetar a estrutura do conto, que parece sólido e linear. É uma crise de plena decadência, na qual o homem não tem nenhum poder, se comparado com forças superiores que jogam com seu destino, transformando-o, afinal, em um ser impotente.

É realmente uma força superior que parece guiar a história do protagonista, cuja jovem existência burguesa parecia apontar diretamente para uma vida de sucesso, quando o pequeno cotidiano feito de elogios e de estudo é virado do avesso com a chegada de uma paixão incontrolável. O que o prende a Gella, sua prima órfã adotada pelo pai quando ainda criança, é um sentimento intenso, seja quando se manifesta como grande incômodo, seja quando se revela um louco amor. A existência humana se anula na paixão; o jovem quase perde o rumo, para depois reencontrá-lo apenas e exclusivamente em seu sentimento. Mas essa experiência tão profunda traz consigo uma carga de fatalidade: tudo foi perdido, consumido durante essa paixão, e agora só resta pagar, saldar o pecado remanente.

O destino dos personagens criados pela caneta deleddiana parece se repetir constantemente, governados pelo desconhecido. Impotente diante de sua própria tragédia, ele não pode fazer outra coisa além de aceitar a própria desgraça. Próximo da virada do século 20, a paixão deixa a sua marca, abre um caminho, dali em diante, para a crise existencial como protagonista de tantas narrativas.

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N.: O Verismo foi uma corrente literária, das artes plásticas e da ópera, surgida entre 1875 e 1895 na Itália em oposição ao Romantismo. É marcado por descrições de caráter realista da vida cotidiana, em especial das classes sociais mais baixas. Os fundadores do manifesto verista foram Giovanni Verga e Luigi Capuana.

Leia Romance mínimo, de Grazia Deledda, disponível gratuitamente no site do Instituto Mojo, em diversos formatos de ebook.

 

Anna Giordano


Universidade de Nápoles Federico II.

Link do artigo original.



Mariana Souza


Tradutora.



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