El Zarco, de Ignacio Manuel Altamirano

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O bandido El Zarco continua vivo no México e no Brasil. Neste livro, Altamirano denuncia como todo um país pode ser sequestrado pela ação conjunta de um governo incompetente e a milícia estabelecida nas cidades.

A América Latina é o cenário de uma história cíclica de pobreza, violência policial, preconceito, racismo, corrupção, arbitrariedades, territórios dominados por milícias e populações inteiras aterrorizadas pelo crime. Em El Zarco, o mexicano Ignacio Manuel Altamirano (1834-1893) apresenta esses elementos e suas correlações. O autor expõe um triste cenário socioeconômico bastante conhecido tanto no passado quanto no presente de praticamente toda nação latino-americana.

O esplendor da natureza da bucólica Yautepec do século 19 é o cenário para o quadro de caos social no qual vivem seus moradores. Essa terrível situação de desamparo institucional em um local de natureza exuberante é inevitavelmente familiar aos leitores brasileiros. Na obra de Altamirano os pobres sofrem nas mãos dos grupos criminosos, que intimidam, sequestram ou matam pessoas em nome dos seus interesses, e nas mãos do Estado, que representa uma ameaça real à liberdade e à vida dos cidadãos que não se curvam às suas arbitrariedades.

É nesse ambiente que se desenvolve uma trama onde o caráter de um homem perverso, mesquinho e vulgar, de pele clara e olhos azuis se contrapõe à honradez, nobreza e justiça personificadas em um índio de pele morena.

As atrocidades praticadas por El Zarco (O “Azul”), dedicadas a saciar sua ganância quase sobrenatural, atingem todas as camadas sociais. Em Yautepec, ninguém está a salvo da miséria, nem mesmo os bandidos. Porém, o autor é cuidadoso ao evidenciar que tal cenário é inequivocamente pior para os pobres honestos, alvo da violência de bandos como o de El Zarco e vítimas do descaso e dos abusos praticados pelas forças do Estado.

Capa + jaqueta em couché 300g/m2

14 x 21 cm, 192 páginas, papel Pólen

Tradução de Renato Roschel

Capa de Fabio Cobiaco

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Descrição

Leia um trecho:

Esses deveres eram impostos ao povo pela autoridade política em relação àqueles soldados, que não defendiam as pessoas pacíficas nem se atreviam a enfrentar os bandidos que dominavam a região.

— Então, comandante — perguntou o prefeito —, ontem e anteontem vocês deram uma canseira nos prateados?

— Sim, senhor prefeito — respondeu o comandante enquanto cofiava o bigode espetado —, uma canseira muito forte. Não descansamos nem de dia nem de noite.

— E conseguiram alguma coisa?

— Demos uma carreira nos prateados, uma carreira terrível. Estou seguro de que ficarão muitos dias sem aparecer no vale de Cuernavaca. Levaram um belo castigo.

— Vocês pegaram alguns, não é?

— Sim, e os deixamos por aí, pendurados nas árvores, onde, a esta hora, ainda devem estar repousando.

— Mas pegaram todos?

— Todos? Não, você sabe que isso seria muito difícil. Esses covardes atacam apenas pessoas indefesas, mas quando aparece uma tropa organizada como a minha, eles correm, desaparecem.

—Mas e El Zarco? Dizem que ele é o chefe do bando que atacou vocês.

— Sim, mas ele é o mais covarde de todos. Sequer esperou nossa chegada, de modo que quando alcançamos Alpuyeca não vimos nem sombra de El Zarco. Tentamos alcançá-lo em vão, porém, logo após roubar e assassinar os estrangeiros, deteve-se recolhendo os feridos de seu bando e fugiu precipitadamente. Não conseguimos descobrir qual era seu destino e não pudemos encontrá-lo em nenhum povoado ou rancho que atravessamos durante nossa caminhada até aqui. Não sabemos se ele passou pelos lugares que cruzamos ou se tem cúmplices em todos esses locais, o que para nós é o mais provável. O caso é que não podemos continuar com minha cavalaria naqueles montes tão escabrosos.

— Mas então, senhor comandante — perguntou o prefeito maliciosamente —, qual foi o bandido que vocês pegaram? O senhor acaba de dizer que deixaram alguns pendurados nas árvores…

— Ah, meu querido prefeito — respondeu o militar sem se descontentar —, prendemos alguns suspeitos, os quais estou certo de que são cúmplices dos bandidos. Eu conheço bem essa gente, não são capazes de dissimular seus delitos, correm quando nos veem e ficam pálidos de medo quando nós os interrogamos. Diante da menor ameaça eles se desesperam e pedem misericórdia! Você pode ver que esse comportamento é uma prova, do contrário, por que fariam tudo isso? Seus delitos os acusam. São cúmplices que avisam os bandidos, que ocultam seus paradeiros e que participam dos botins. Há vários desses por aí e, a meu ver, o mais importante é que os deixamos dando voltas no ar ao pendurá-los pelo pescoço nos galhos das árvores da região. Servirão de exemplo! Não é o que lhe parece?

Portanto, o valente militar havia fuzilado e enforcado nada mais do que alguns infelizes camponeses e aldeões, apenas por suspeitar de que estariam trabalhando para os bandidos. Tudo isso para não se apresentar ao seu chefe em Cuernavaca com as mãos limpas de sangue.

O prefeito compreendeu exatamente essa injustiça, e por isso perguntou com insistência:

— Sim, senhor comandante, isso eu entendi, mas e El Zarco?

— El Zarco, senhor prefeito, deve estar agora muito longe daqui. Talvez no distrito de Matamoros ou próximo de Puebla. Deve estar repartindo seu roubo na maior segurança e tranquilidade. Bom para ele, que decidiu tomar um rumo diferente do nosso!

— Mas dizem por aí — objetou o prefeito — que sua base fica em Xochimancas, a poucas léguas daqui, onde ele conta com mais de quinhentos homens. Pelo menos é o que se diz aqui no povoado, e nós sabemos muito bem, porque é exatamente de lá que saem os grupos que assaltam as fazendas e os povoados da região. É lá que eles guardam o que roubam, onde estão presos os sequestrados, onde estão seus cavalos, suas munições, enfim. Segundo notícias que recebemos diariamente, vivem lá como se estivessem em uma fortaleza. Têm até artilharia, músicos e charangas, as quais algumas vezes os acompanham em suas expedições e que servem também para diverti-los em seus bailes.

— Eu sei, eu sei — respondeu o comandante com certo enfado —, mas você sabe como o povo exagera as coisas. Tudo isso é invenção. Eles se refugiaram em Xochimancas uma ou duas vezes, tocaram os dois ou três clarins que têm consigo e o medo do povo inventou todo o resto. Afinal, você não vai negar, senhor prefeito, que vocês vivem aqui tão mortos de medo que nem parece haver homens habitando essas comarcas.

Informação adicional

Peso 0.35 kg
Dimensões 21 × 14 × 2 cm

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